COMO O AUTISMO PODE AFETAR AS RELAÇÕES FAMILIARES
- anacostacapoto
- 6 de mar. de 2021
- 4 min de leitura

O Autismo é um transtorno presente desde o nascimento e que normalmente apresenta suas características antes dos 30 meses de idade. Apresenta uma variedade de comportamentos que aparecem em diferentes momentos e não possuem a mesma intensidade nos indivíduos afetados.
O diagnóstico do Autismo não é obtido através de exames de sangue ou radiológicos; ele é feito através da observação comportamental e estudo da história do indivíduo desde a infância, seguindo alguns critérios.
Sabemos que para um bom desenvolvimento social, precisamos ser capazes de interagir com o meio em que vivemos, e é justamente nessa área que os Autistas possuem maior dificuldade. Além do mais, quando essa capacidade está prejudicada, há dificuldade na interação familiar que é muito importante para o desenvolvimento das pessoas com o transtorno.
O Autismo traz consigo algumas consequências importantes, que poderão impactar no desenvolvimento, e um deles e o mais comum é o estresse agudo familiar. Toda a dinâmica doméstica sofre mobilizações que vão desde o impacto financeiro, até a qualidade de vida física, psíquica e social dos pais e até dos irmãos.
No início os pais precisam lidar com o “luto” pela perda do filho ideal, tentamos digerir o diagnóstico e mergulhamos profundamente em um mundo completamente desconhecido e imprevisível.
O Autista é um membro permanentemente sintomático e no início, por inexperiência, podemos não enxergar as capacidades e potencialidades de nossos filhos. Sem querer podemos afetar o desenvolvimento deles por não saber como lidar com a situação. Sabemos que em uma família mais compreensiva e que facilite a evolução, possui mais chances de êxito.

Os pais devem ter em mente de que sozinhos não conseguirão passar pelos obstáculos impostos pelo transtorno, precisam ter noção de que também precisarão de ajuda. Pedir essa ajuda não demonstra sinal de fraqueza, mas sim adquirir conhecimento e buscar as melhores formas para o manejo de seus
filhos, diminuindo a ansiedade e o estresse familiar. A partir daí, tudo serão tentativas; algumas vezes vamos errar, porém muitas vezes acertamos e o controle emocional é essencial.
O transtorno Autista é caracterizado pelo comprometimento de três áreas do desenvolvimento: habilidades de interação social recíproca, habilidades de comunicação e presença de comportamentos, interesses e atividades estereotipadas. O indivíduo possui dificuldades em reconhecer emoções das pessoas a sua volta e muitas vezes também em expressá-las.
Todos os déficits que acompanham o transtorno, trazem problemas de comunicação e aceitação deles pela sociedade. Os pais sentem-se impotentes diante dos olhares de outras pessoas, como se estivessem condenando-os pelo comportamento do filho, fazendo com que se isolem.

Uma família é considerada a unidade básica de desenvolvimento das experiências, das realizações e dos fracassos do homem (SPROVIERI, 1995; SPROVIERI e ASSUMPÇÃO JR, 2001), ou seja, a estrutura familiar é a base de tudo. Em famílias que possuem pessoas com deficiência, existirão obstáculos no cotidiano para os quais não estavam preparados. A aceitação de que temos um membro na família com necessidades especiais vai depender da história de cada um, das crenças, preconceitos e valores.
A dinâmica familiar é muito afetada, quando passa a se viver com o problema. Os familiares são levados a experimentar algumas limitações permanentes. Podem surgir nesse caminho rupturas familiares, as atividades sociais podem ser interrompidas ou bastante diminuídas, transformando o clima emocional da família. Os pais tendem a unir-se a disfunção do filho (SPROVIERI e ASSUMPÇÃO JR, 2001).
O transtorno tende a afetar as famílias em graus diferentes e a resposta a essa nova realidade também traz efeito sobre a criança. Existe uma tendência natural ao desequilíbrio por causa de situações estressantes, e esse desequilíbrio passa a se refletir nas relações familiares, dificultando a saúde emocional de seus membros (SPROVIERI e ASSUMPÇÃO JR, 2201).
As emoções como medo e constrangimento de pais de filhos Autistas são muito comuns, pois estão experimentando algo novo e podem levar ao desgaste da relação familiar. Existem muitos casais que acabam se separando nessa fase.
Vários estudos constataram que há maior tensão física e psicológica em mães de crianças com Autismo do que em pais, a culpa aparece em 66% dos casos e 33% é relativo a incertezas quanto a habilidades maternais. Também foi demonstrado que os pais se mostraram afetados, porém indiretamente, isto é, reagiram ao sofrimento de suas esposas.
MILGRAN e ATZIL (1988) estudaram os diferentes papéis desempenhados por pais e mães de crianças com transtorno Autista em Tel-Aviv e os resultados apontaram maior risco de crise e estresse parental nas mães, devido a demanda dos cuidados com os filhos. Há uma expectativa social de que as mães tomem para si esses cuidados. Nesses estudos também foi apontado por elas, o sentimento de desamparo e falta de suporte dos maridos.

Pais e mães devem estar conjuntamente comprometidos no cuidado do filho, e quando os maridos assumem funções juntamente com suas esposas, haverá maior alívio materno, será mais fácil adotar rotinas e divisão de responsabilidades para discipliná-los, porém essa ajuda deve ser de forma espontânea, sem necessidade de contínuos pedidos de ajuda. O companheirismo deve falar mais alto e conversar sempre é a melhor saída.
Existem situações em que o convívio com outros familiares se torna difícil por falta de compreensão, fazendo com que os pais evitem contato com receio de se constrangerem com os familiares por causa do filho, contribuindo para um isolamento maior.
Para as mães, a maior dificuldade para a rotina diária é a dificuldade de interação social, dificuldade na comunicação verbal e não-verbal e comportamentos repetitivos e compulsivos, contribuindo para uma diminuição grande na qualidade de vida delas, devido ao alto grau de estresse. Uma grande parte das mães de crianças com o transtorno renunciam as carreiras profissionais para cuidarem exclusivamente do filho, trazendo consequências devastadoras para a saúde emocional. Cada mãe vivencia seus sentimentos contraditórios de forma singular e as incertezas para o futuro causa sofrimento e ansiedade.

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