A AGRESSIVIDADE NO TEA
- anacostacapoto
- 30 de jan. de 2021
- 4 min de leitura

É muito comum vermos comportamentos agressivos em indivíduos com TEA, e vários fatores podem desencadear esse quadro, um deles é um excessivo déficit na comunicação e interação social. Outros fatores que podem levar a um incômodo extremo, é o fato de possuírem comportamentos muito restritos e repetitivos, fazendo com que qualquer mudança no contexto em que estão inseridos, pode ser um gatilho para novas crises; a hipersensibilidade também pode desencadear a agressividade, principalmente naqueles que não desenvolvem a fala ou possuem grande dificuldade nela, pois não sabem se expressar de outra forma; a sobrecarga de estímulos no ambiente em que se encontram pode estressa-los ou o comportamento agressivo pode estar ligado a algum problema em que a criança não consegue explicar (dor, incômodo físico, por exemplo). A agressividade acontece devido à dificuldade na autorregulação das emoções.
Temos 2 tipos de agressividade no TEA: a agressividade impulsiva/afetiva (agressão reativa, defensiva ou hostil) e a dificuldade de expressar as emoções associadas ao desajuste sensorial levando a uma sobrecarga.
Estudos indicaram que 68% das crianças e adolescentes com TEA, demonstraram agressividade em relação ao cuidador e 49% em relação a não cuidadores (Kanne & Mazurek, 2011); 50% de pacientes com TEA, apresentaram comportamentos auto lesivos (Richards, Oliver, Nelson, & Moss, 2012) e a maior parte desses comportamentos estão ligados a certos fatores de risco tratáveis (distúrbios do sono, problemas de atenção e impulsividade/hiperatividade; Hill et al., 2014; Richards et al., 2012).
A criança com TEA pode estar em um lugar em que os interesses não condizem com seus padrões de preferência, desencadeando irritabilidade e impaciência.
Baseado em estudos Norte Americanos, o comportamento agressivo atinge 1 em cada 4 crianças com TEA e quanto menor o QI, maior a propensão a crises nervosas (menor capacidade de comunicação).
A falta de interação e do entendimento dos símbolos sociais (comunicação e gestos), leva esses indivíduos a se expressarem da única maneira que conseguem, esse comportamento é a forma de se comunicarem quando contrariadas.
Essas crianças precisam de intervenção multidisciplinar e muitas vezes medicamentosa para diminuição desses padrões de comportamento.
É importante observar e anotar os gatilhos que podem levar às crises, isso poderá ajudar muito na abordagem terapêutica.
PASSOS PARA CONTROLAR UMA CRISE:
- MANTENHA A CALMA
- EXPLIQUE O QUE ELA ESTÁ SENTINDO
- DESENVOLVA ROTINAS PARA SE ACALMAR
- RETIRAR ESTÍMULOS SENSORIAIS
- CONTENÇÃO NA AGRESSIVIDADE
- ANTECIPAR-SE AS CRISES

Um ambiente tranquilo, sem muitos estímulos (visuais, sonoros, por exemplo) deve ser priorizado dentro de casa. Quando apresentarem tais comportamentos, tente manter a calma, pois para esses indivíduos conseguirem regular as emoções, precisam de tranquilidade; é importante o cuidador traduzir os sentimentos para esses indivíduos, pois eles tem dificuldades em entender porque estão em crise, tem dificuldades em reconhecer as emoções (ex: “você está assim porque tem um barulho alto, porque está com fome, porque está com medo”); desenvolver técnicas para se acalmarem (técnicas respiratórias, ter um canto na casa ou no quarto confortável, com objetos que goste e etc); Quando apresentarem autoagressão ou agressão voltada para alguém, tente interromper a crise abraçando-os (abraço de urso) de maneira tranquila e segura, mostrando que você está ali e entende o que está passando, fale baixo e sempre vá desviando o foco para outras coisas, de maneira que possam se tranquilizar (para nós sempre deu certo e vale tentar. Nunca foi fácil e continua não sendo, mas não podemos deixar de investir). Tente ser breve e use frases curtas para dar comandos, por exemplo, “não pode”, “pare”, “sente-se”, seja firme e tente afastá-los para longe de locais que possam apresentar perigo na hora da crise (prateleiras com vidros ou gavetas com objetos cortantes).
O trabalho conjunto dos terapeutas com o médico deve ter uma abordagem em 4 etapas: IDENTIFICAÇÃO, ENTENDIMENTO, GERENCIAMENTO E PREVENÇÃO relacionada ao comportamento agressivo. Quando essa abordagem não está surtindo o efeito esperado deve-se procurar outras comorbidade associadas ao TEA, como o TDAH, TOD, distúrbios do sono, entre outros.
Os problemas de sono são altamente prevalentes (50 a 80%) no TEA e uma proporção significativamente maior em indivíduos com deficiência intelectual (Hodge, Carollo, Lewin, Hoffman e Sweeney, 2014; Richdalee Schreck, 2009; Schreck& Mulick, 2000); o sono precário também se mostrou uma das causas para agressão e violência (Kamphuis, Meerlo, Koolhaas, & Lancel, 2012).
Para indivíduos que possuem problemas funcionais da escrita e não desenvolvem a fala, o uso da comunicação complementar alternativa (CSA) serve como ferramenta, podendo ser importante para minimizar a agressividade e a frequência desses comportamentos. É um meio facilitador da comunicação e abrange todas as suas formas (gestos, figuras, expressões faciais, sons, expressões corporais para identificar seus desejos e necessidades). O desenvolvimento de uma comunicação necessária para o cotidiano é importante para diminuir a ansiedade (por exemplo apontar determinada figura ou objeto relacionado a sua necessidade ou sentimento).
Somente um bom trabalho em equipe pode trazer bons resultados no tratamento e a precocidade também terá influência no resultado. Na comunicação alternativa os símbolos transformam-se em comunicação através de fotos, figuras, alfabeto, podendo ser usado da forma mais simples, com a aquisição de cadernos, até aplicativos para celulares, tablets e computadores.
Achei importante colocar aqui o depoimento de uma mãe que tem o filho autista de 8 anos. Me chamou a atenção a paciência, o amor e a sensibilidade dela em lidar com a crise dele, me emocionei muito.

“Agora com o isolamento social, devido a pandemia, tem acontecido frequentemente dele ter crises. Nesses momentos, eu paro com ele e busco entender as emoções. Eu digo a ele que entendo o que ele quer, mas não posso dar. Ele quer muito sair, ir à biblioteca, que é um local que ele ama estar, quer ir ao parque. Isso deixa ele muito
agitado, e ele tem o direito de sentir isso, mas eu tenho adotado a estratégia do silêncio.
Uma coisa que funciona bastante aqui em casa é levá-lo para o banho, isso o acalma bastante. As vezes ele se morde, chuta, mas o tempo em baixo d’água vai agindo para deixar ele mais calmo. Quando eu vejo que é seguro, eu entro na água e fico abraçada em silêncio com ele. É uma forma de mostrar que eu entendo e também sinto a dor dele”.
Eloá Alves
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