Questão de consciência...
- anacostacapoto
- 30 de nov. de 2020
- 4 min de leitura
É errado dizer que os Autistas vivem em um mundo próprio e que não entendem nada do que se passa à sua volta; por isso não conseguem interagir. Na realidade essa ideia mostra o desconhecimento do transtorno. Quando isso é dito, fica mais fácil a sociedade isolá-los, pois é difícil demais lidar ou querer compreender os comportamentos que eles desenvolvem. Muitas vezes, alguns comportamentos, são a maneira que eles têm de se comunicar.
As pessoas não devem tentar transformar os Autistas em pessoas típicas, devemos aceitá-los como são e tentar ajudá-los a se desenvolver seus potenciais,
aproveitando as capacidades que possuem.

Os indivíduos com TEA possuem muita dificuldade de se comunicar com as pessoas. Algumas nem chegam a desenvolver a habilidade de se comunicar verbalmente. Àqueles que desenvolvem a linguagem verbal, muitas vezes não desenvolvem de forma adequada.
Segundo o DSM (manual diagnóstico estatístico de transtornos mentais), existem 3 níveis de Autismo: nível 1 ou leve ( não exige necessidade de grande apoio); nível 2 ou moderado (precisa de maior intervenção na saúde, educação e apoio); nível 3 ou severo ( autismo severo, necessidade de apoio extremo). Em todos os níveis de autismo, quando não há uma abordagem terapêutica correta ou adequada a cada caso, pode fazer com que a comunicação e socialização sejam afetados, marcando a vida deles para sempre. A comunicação é a chave para tudo o que fazemos.

A falta de informação também é uma barreira para a inclusão desses indivíduos na sociedade.
Nos graus mais leves do transtorno, a comunicação deficiente, muitas vezes é atribuída a características próprias do indivíduo (é o “jeito dele”, ele é “introvertido”), deixando passar o problema despercebido. Essas pessoas têm uma chance maior sofrer preconceito, pois são os “esquisitos” do grupo.
A leveza dos sintomas, pode confundir até aos pais, que nunca vão pensar que seu filho é Autista (muitos acham que as características são as mesmas do Autista clássico, com todo aquela relação de sintomas).
São apegados a rotinas rígidas, porém conseguem desempenhar as tarefas do cotidiano sem muita dependência (eles precisam de rotinas), possuem capacidade de uma comunicação funcional e de interação com outras pessoas (normalmente necessitam de apoio psicológico para lidar com essas questões). É necessário inserir vários assuntos no dia a dia, para favorecer a interação social. Eles tendem a se afastar de grupos, por não terem os mesmos interesses e vice-versa. Eles possuem uma tendência maior em desenvolver depressão, principalmente na adolescência, quando não conseguem se encaixar nos “padrões”.
No segundo nível, necessitam de um maior suporte profissional. A comunicação, a capacidade de identificação de sentimentos do outro ou expressões faciais que tenham haver com sentimentos, estão bem mais alterados. Costumam entender tudo ao pé da letra, dificuldade em entender ironias ou brincadeiras. É comum que por impulso, desenvolva comportamentos inadequados, por não saber lidar com alguma situação (birra, choro, se jogar no chão...).
No nível 3 possuem capacidade cognitiva (aprendizagem) bastante afetada, dificuldade muito grande na linguagem ou não a desenvolve. As atividades de rotina devem ser trabalhadas para que consigam desenvolver da melhor forma possível a capacidade de aprender. Exigem muita atenção e devem ser trabalhados com intensidade.
Sempre que possível, tentar estimulá-los também em ambientes abertos (praça, praia, jardim, quintal...) para se tornar mais prazeroso.
Uma rotina diária, bem estruturada, ajuda bastante os pais e os indivíduos com TEA, independente do grau (ex.: quadro de tarefas semanais, e àqueles que tiverem uma compreensão maior, tentar passar tudo o que vai ser feito, para que possam aceitar e entender). Eles precisam de rotinas para se organizarem.
Por exemplo, a hora de comer que costuma ser bem complicada, devemos deixar bem claro, que não é permitido celular, tablet, televisão e brinquedos, eles não podem ter outro foco que não seja a comida; quando anoitecer devemos começar a prepara-los para a transição para a hora de dormir (todo aquele ritual: lanche ou janta, banho, brincar com coisas mais suaves e não eletrônicas, evitar doces, café, chocolate, açúcar, escovar os dentes, iluminação e barulhos diminuídos...). Essa rotina, que muitas vezes é exaustiva, precisa ser introduzida aos poucos para que consigam assimilar.
Cada pai e mãe saberá adaptar as rotinas de acordo com a observação do comportamento de seus filhos. Nesse momento é muito importante a ajuda de um psicólogo.
Muitas vezes, o excesso de informação em um ambiente (luzes, som alto, muita gente falando ao mesmo tempo), pode irritá-los, aumentando por exemplo, as estereotipias (pular na cama e sofá, balançar as mãos, barulhos com a boca, girar no próprio eixo do corpo). Quando temos um filho com TEA, tudo em torno precisa de adaptação, pois são extremamente sensíveis. Devemos identificar o que mais os incomoda.

Existe um erro, que também é comum,de não dar credibilidade a evolução de pessoas com TEA. Com intervenção correta, estimulação, consciência do transtorno pela família, educação voltada para desenvolver habilidades e trabalhar as dificuldades, é possível reduzir o nível e sintomas do transtorno.

Os que recebem o diagnóstico tardiamente, também precisam de intervenção, da mesma forma. A evolução pode ser mais lenta e diferente, mas não é motivo para não ser trabalhado, pois todos possuem capacidades e há uma possibilidade para cada indivíduo

Não devemos ir atrás de soluções fáceis e milagrosas, pois não existem! Desconfie, não comprometa a evolução ou a integridade do seu filho. Não há cura para o Autismo, mas quando bem trabalhados e assistidos de forma séria e correta, podem nos surpreender!
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